sábado, 8 de junho de 2013

Explicando a falsa versão que os ruralistas vêm difundindo a respeito da extensão das terras indígenas a serem demarcadas em MS

Em vários documentos e declarações divulgadas nos últimos anos, os fazendeiros de MS dizem que as terras a serem demarcadas para os Guarani-Kaiowa corresponderiam a 22% ou 25% da área total do estado, o que traria sérios problemas e prejuízos etc.
Como eles chegam a esse número? O que eles fazem é somar a área total dos municípios para os quais foram emitidas, em julho de 2008, portarias da Funai destinadas a convocar grupos de trabalho para identificar e delimitar terras de pelo menos 39 locais reivindicados (tekoha, em guarani) no sul do estado.
A questão é que os indígenas nunca demandaram essa área toda que os fazendeiros dizem (seriam mais de 7 milhões de hectares, nos cálculos deles)! Para chegar a isso, seria necessário demarcar os municípios em sua integralidade (incluindo as cidades etc.), coisa que nunca foi intenção dos indígenas.
Desde 2008, os antropólogos envolvidos no debate sobre terras indígenas em MS, a Funai e os próprios indígenas têm repetido: a área que está sendo reivindicada é cerca de DEZ VEZES MENOR – ou seja, corresponde a algo em torno de 2% da área do estado (e não 22%, ou 25%).
Um levantamento preliminar, feito em 2008, pelos antropólogos, chegou a pelo menos 600 mil hectares. Para que tenhamos a extensão exata, será preciso concluir os seis GTs iniciados em 2008, mas, para que se tenha uma ideia, o único dos seis grupos que já divulgou a área foi o que pesquisou as terras da região do rio Iguatemi e chegou a 41,5 mil hectares para o primeiro trecho da nova Terra Indígena Iguatemipeguá – ou seja, bem mais terra do que os Guarani-Kaiowa têm hoje, mas muuuuito menos do que os fazendeiros vêm alardeando.
Agora, eu pergunto, por que continuam difundindo esse “erro”? O primeiro ruralista que encontrei falando algo mais próximo da realidade foi o representante dos pecuaristas que deu entrevista à Folha esta semana. Os demais continuam repetindo o “erro”. Por quê? Par que colocar mais lenha na fogueira dos conflitos?

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